A CARNAÚBA

Nossa riqueza desde o Brasil Colonial

A carnaubeira, copernícia prunífera, é uma palmeira que habita as margens de rios da região Nordeste e produz uma cera de alto valor econômico e social. Sua presença na paisagem semiárida é marcante. Encontra-se referências da planta em relatos de viajantes, cronistas, botânicos, químicos e romancistas ao longo do tempo. Foi descrita pela primeira vez em 1648, no livro Historia Naturalis Brasiliae, uma das obras mais importantes do registro artístico e científico do Brasil colonial, de autoria de George Marcgrave e Willem Piso. Em 1796, Manuel Arruda Câmara enviou a Portugal um estudo sobre a carnaúba. No século XIX, foi destaque em publicações como Notice sur le palmier carnaúba (1867), de Marcos Macedo, e em estudos sobre o Estado do Ceará, como o Ensaio Estatístico da Província do Ceará (1863), de Thomaz Pompeu sobrinho, e o Vocabulário Indígena em uso na Província do Ceará (1887), de Paulino Nogueira. A palmeira também tem conotação literária e surge na memória de obras de importantes autores, como Mário de Andrade, Guimarães Rosa, José de Alencar e Euclides da Cunha.

Aliás, a carnaúba está na vida cotidiana do cearense não só na paisagem, mas na própria história. A bandeira do Ceará traz a árvore em seu brasão, desde o início da República. Assim, Nogueira Accioli definiu um mosaico de elementos da história, cultura, política e geografia do Estado nessa primeira versão, de 1897, em que estavam representados os municípios por meio das estrelas, a enseada do Mucuripe, uma palmeira – possivelmente a carnaúba -, o antigo forte, o algodão e o fumo, principais produtos da economia cearense da época. Com o passar do tempo, símbolos foram incorporados, enquanto outros foram substituídos. Com a Lei nº 13.897/2007, a carnaúba tornou-se elemento fixado no brasão, consolidando assim a Lei nº 27.413/2004, que define a árvore como símbolo do Estado e proíbe o corte da planta sem prévia autorização legal, incentivando a preservação.

Beneficiamento

O processo de germinação da carnaúba tem início após 20 dias do plantio. O embrião surge e se desenvolve, penetrando no solo cerca de 10 centímetros para o crescimento da futura raiz. Depois de 40 dias do plantio, a primeira folha chega à superfície. Essa folha é gerada do broto, popularmente conhecido como “olho”. O talo se abre em formato de leque e, após aberto, chega a medir 1,2 metros de comprimento.

Entre os meses de julho e fevereiro, faz-se a colheita das folhas, que são colocadas para secar ao sol. Tais folhas criam uma camada cerifera que evita a perda de água. E visando a produção de cera, é realizado o desprendimento do pó que se forma sobre as folhas. O processo tradicional de transformação do pó em cera necessita que ele seja cozido e coado em grandes prensas de madeira. O resfriamento dessa mistura é feito em tanques rasos. Depois, o produto é quebrado em pedras de cor amarelo-esverdeado ou marrom-escuro. Surge assim a cera bruta, pronta para o beneficiamento.

Dessa árvore tudo é aproveitado. O palmito da planta jovem é comestível, assim como o fruto. As folhas verdes alimentam o gado. Quando elas secam, retira-se o pó, utilizado na produção da cera. As palhas são utilizadas no artesanato, na fabricação de utensílios domésticos, na cobertura de casas e outras obras da construção civil. Do tronco, fazem-se caibros e linhas para o telhado e a raiz tem finalidade medicinal, como eficiente diurético e antivenéreo.

Impacto econômico e social

No Brasil, a indústria da cera de carnaúba obteve um total de US$ 29,9 milhões em exportações no período de janeiro a abril de 2019 – um crescimento de 56,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Entre os estados brasileiros, o Ceará tem o maior montante e corresponde a 70% do volume total exportado pelo país. O produto ocupa o 8º lugar na pauta de exportação cearense, com 95% da cera produzida exportada para o exterior, sendo 30% para os Estados Unidos.

Segundo o Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), no primeiro bimestre de 2019, o município de Eusébio (CE) exportou US$ 5,8 milhões, tornando-se o 10º colocado no ranking de exportações do Ceará. As importações somaram no mesmo período US$ 4,62 milhões, o que gerou um saldo comercial superavitário de US$ 1,16 milhões. O valor representa um crescimento de 803,4% em relação aos dois primeiros meses de 2018.

As cifras revelam também impacto social: a indústria da carnaúba gera 96.300 empregos diretos no país, especialmente no Ceará e no Piauí, principais estados produtores. O ciclo de extração é o grande diferencial para a agricultura familiar, pois, no período chuvoso, a carnaúba recupera a copa e, na estiagem, cria a cera para reter água, num processo de adaptação ao clima semiárido. A diversidade de aplicação e uso da cera e da planta perpassam as indústrias automobilística, cosmética, farmacêutica, construção civil e alimentícia, que transformam essa riqueza natural da caatinga em atividade de forte expressão econômica no país.

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